«O meu amigo Jacinto nasceu num palácio, com cento e nove contos de renda em terras de semeadura, de vinhedo, de cortiça e de olival.»
Assim são resumidas, pelo amigo Zé Fernandes, as origens do supercivilizado Jacinto, o Príncipe da Grã-Ventura, o habitante do n.º 202 dos Campos Elíseos, no coração da Civilização — essa Paris toda feita de luz, progresso e conforto. Mas «o meu Príncipe», como lhe chama Zé Fernandes, aborrece-se, tocado por essa doença de final do século XIX própria de quem tudo tem: o spleen. Jacinto não encontra nada de novo debaixo do céu da grande metrópole, perde o apetite, a paixão, a cor do rosto e a vontade de viver. Quando notícias vindas de Tormes, onde se situa o tal «palácio» da região duriense, o levam a decidir, num enlevo algo romântico, regressar às origens para reconstruir a casa de família e prestar homenagem aos antepassados, o regresso é preparado meticulosamente, e com todos os requintes que a Civilização permite… Mas estarão as serras durienses preparadas para tanto? E estará Jacinto preparado para a simplicidade que aí vai encontrar?
Entre Paris e a região do Douro, A Cidade e as Serras é a mais deliciosa e divertida busca da felicidade de toda a literatura portuguesa e a obra que, como aponta Rui Zink no Prefácio a esta edição, remata com uma candura e uma ternura tão conscientes quanto pouco habituais, a obra romanesca de Eça de Queirós.
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