«Eu era um rapaz de catorze anos e não sabia quem era…»
Com esta frase, que nos coloca em pleno mistério, inicia Camilo aquele que seria o seu segundo romance, editado em 1854 mas publicado originalmente em folhetins no diário portuense O Nacional. Influenciado pelo romance-folhetim em voga na época, Mistérios de Lisboa mergulha-nos num turbilhão imparável de aventuras e desventuras, coincidências e revelações, sentimentos e paixões violentos, vinganças, amores desgraçados e ilegítimos, de que o leitor não consegue libertar-se até à última página. Com uma galeria de personagens inesquecíveis, como o Padre Dinis, que de aristocrata e libertino se converte em justiceiro, assumindo diversas identidades, estes Mistérios de Lisboa ultrapassam, quer as fronteiras do género em que se inspiraram — como bem nota João Tordo no Prefácio a este edição —, quer as dessa Lisboa que a obra percorre, mas onde chegam ou de onde partem para França, Inglaterra, África, Brasil todos os piratas, ciganos, aristocratas, burgueses, mulheres de má nota, santas, assassinas, desgraçadas e venturosas personagens que por aqui se cruzam… Uma viagem pela alma humana e pelo século XIX, como pelos meandros de uma cidade.
CAMILO CASTELO BRANCO nasceu em Lisboa em 16 de Março de 1825 e morreu em S. Miguel de Seide em 1 de Junho 1890, pondo termo à vida com um tiro de pistola.
Filho ilegítimo de uma família da aristocracia de província, veio a tornar-se o primeiro visconde de Correia Botelho, mas a sua vida foi marcada pelo estigma do nascimento irregular e pela orfandade precoce, que o fez iniciar aos dez anos um périplo por casa de familiares, primeiro em Vila Real, depois em Vilarinho de Samardã. Com uma vida amorosa precoce, riquíssima e dramática, ficou famosa, para além da sua obra, a sua paixão por Ana Plácido, que viria a ser a mãe dos seus filhos e o grande amor da sua vida. Podendo ser considerado o primeiro escritor profissional do nosso país, teve uma produção literária vastíssima, maioritariamente de cariz romântico (de que Amor de Perdição (1862) é o título mais conhecido), mas também marcada pela escola realista, nomeadamente nos romances em que satiriza esta escola literária, como Eusébio Macário (1879) ou A Brasileira de Prazins (1882).
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