«O melhor de Júlio Dinis está neste A Morgadinha dos Canaviais, romance dos mais lidos e apreciados nos países de língua portuguesa. Nele, o escritor advoga a tese segundo a qual a felicidade só existirá no regresso ao campo e à vida simples. Todavia, não deixa de estar presente uma forte componente de crítica social, que visa o fanatismo religioso e o clericalismo hipócrita. Traduzindo seguramente o seu caso pessoal, Júlio Dinis não exclui o progresso industrial nem o desejo de bem-estar material, mas deles encara apenas como vantagem aquilo que contribui para a ventura do homem no campo, sem lhe alterar absolutamente o modo de vida. Por isso procura um compromisso, nem sempre possível de atingir, entre a ciência e a ingenuidade. Mas fá-lo com tal generosidade que não se estranha que o mesmo tema volte a ser abordado por outros escritores, como Eça de Queirós n’ A Cidade e as Serras, ainda que com outro sentido e matiz.»
(Ferrão Katzenstein, do Prefácio)
JÚLIO DINIS era, afinal, Joaquim Guilherme Gomes Coelho. Nasceu no Porto em 1839, formou-se em Medicina, mas não chegou a exercer porque a tuberculose obrigou-o a desistir da profissão e a abandonar a cidade. Em Ovar, terra natal do seu pai (a mãe era de origem inglesa), encontrou tempo para se dedicar à literatura e escrever As Pupilas do Senhor Reitor, o seu primeiro romance. Assim que se sentia restabelecido regressava à cidade e aos seus afazeres profissionais, mas a doença não lhe dava tréguas e volta e meia via-se forçado a refugiar-se no campo. Faleceu no Porto em 1871 vítima de tuberculose. Tinha apenas 32 anos. Apesar disso, deixou-nos uma importante obra, na qual encontramos A Morgadinha dos Canaviais, Os Fidalgos da Casa Mourisca, Serões da Província (colectânea de contos e novelas) e Uma Família Inglesa (o único dos seus romances que não tem por cenário o meio rural).
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